quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre o Medo parte 2

Diz H. P. Blavatsky em "A Voz do Silêncio":


"O medo, ó discípulo, mata a vontade e demora a ação." 
Medo é o nome dado ao movimento fantasioso que a mente faz na tentativa de repelir, de impedir, que um acontecimento do passado ocorra novamente no futuro. Tal repulsão acaba por reforçar a lembrança da dor. Tal repulsão é o apego a dor, apego a idéia da dor, da punição, da vergonha, da humilhação. Tal repulsão é o desejo, a expectativa, a ansiedade, de que estas coisas não se repitam. Tal repulsão é o desespero para evitar que venhamos a sentir dor, que venhamos a sofrer. É o apego ao pior, ao ruim. 
O medo vai se tornando maior dependendo do tamanho do sofrimento e da quantidade de situações de sofrimento já vividas, por isso conforme vamos ficando velhos ficamos mais defensivos, a mente vai ficando carregada de mecanismos de reação e de defesa, vai ficando cada vez mais embotada.O medo é uma coisa cultural que nos foi imposta pela sociedade, devido a sua maldade, ignorância, devido a seus desejos. Fomos adestrados para sentirmos medo, assim podem nos controlar, nos dominar. Fomos amestrados para sermos falsos e mentirosos, para negarmos a nós mesmos. 
Não aceitamos críticas, conselhos, orientações, por medo de sermos dominados, medo de perdermos espaço, medo de ficarmos inferiorizados. Nos defendemos, nos explicamos, nos justificamos, por esses motivos, também. 
Movidos por orgulho, ganância, ilusão, criamos padrões, modelos, idéias. A criação do ideal é uma maneira de fugir do presente, do real, por medo. Queremos que as pessoas sigam estes ideais, acreditamos que as pessoas tem que ser como definimos. Quando estamos em uma situação de poder, utilizamos do medo para podermos controlar, fazer com que os outros sigam os nossos modelos. Utilizamos ameaças, castigos, torturas, punições, chantagens, transmissão de sensações e emoções através de cara, bocas, posturas para gerar medo nos outros. Esse comportamento é facilmente verificado em pais, professores, chefes, ou seja, em nós. Medo é uma maldade, um preconceito, dos poderosos, da sociedade. 
Nos entopem de ilusões de sucesso, prazer, fama, riqueza. Depois nos manipulam com o medo de não conseguirmos conquistar as tais ilusões. 
O natural e espontâneo é recriminado, em nome da normalidade, dos padrões, definidos pela sociedade. Mas a negação da individualidade é uma violência contra si. 
Normopata é aquele que tem a patologia da normalidade, por assim dizer, é normal demais. Quer seguir os modelos a risca. Quer parecer ser o próprio modelo. Na verdade é mais travado do que qualquer outra coisa. Vive em estado de plena defesa, num estado de medo, repressão. 
O medo surge quando não nos aceitamos e queremos ser como os outros acreditam que se deve ser. Não que os outros sejam. Na realidade fingem ser, querem parecer que são como os modelos e querem que todos vivam da mesma forma, parecendo ser o que não são. 
Desta forma, não expomos sentimentos e pensamentos por medo do que os outros vão pensar, do que os outros vão dizer. 
Tudo aquilo que não reconhecemos como sendo nós mesmos nos amedronta. 
O medo se manifesta no corpo através de algumas sensações como: dor de barriga (chegando a desinteria), imobilização, travamento (perna, mente, garganta), tremedeira, suor. O medo provoca uma mudança de metabolismo, mudança que serviria inicialmente para emergências, um estado de alerta para defesa, uma defesa. 
O estado de alerta que deveria ser uma coisa natural, acaba sendo usado para coisas da mente, para as ilusões. Passamos o tempo todo em alerta demissão, alerta falha, alerta perfeição, alerta traição. O que acontece quando nos mantemos por muito tempo nesse estado de alerta é que acabamos por gerar uma tensão que com tempo se transforma em stress. 
Acreditamos que temos que ser de certa maneira, mas como não conseguimos, então fingimos, tentamos parecer com o modelo do tem que ser, pois desta forma não sofreremos represálias. Somos escravos dos conceitos, preconceitos, dos modelos, dos tem que. 
Nos conceitos da sociedade, o falso, o fingido, o que cumpre com os tem que ser, para se parecer com o modelo, é o educado, é o legal. O natural, verdadeiro, honesto, é o inconveniente. A verdade se tornou uma coisa horrorosa, tememos ouvir a verdade, tememos dizer a verdade. A verdade nos ofende. A mentira se tornou um mal necessário para as mentes medrosas. É uma defesa para não se sofrer represálias. 
As mensagens que estão impressas em nossas mentes são muitas, "- Não faça isso senão vai apanhar.", "Não faça aquilo senão vai ficar de castigo.", "Fiquei quieto senão te mando para fora da sala.", "Se eu souber que te colocaram para fora da sala vai apanhar.", "Não faça isso porque é feio.", "Não faça isso porque senão vai se demitido.", "Quando estiver empregado, se mate de trabalhar e não reclame, porque arrumar emprego esta difícil, bajule todos para não ser despedido", "Seja bonzinho e faça isso." "Seja bonitinho e faça aquilo.". 
Essas mensagens nos são passadas carregadas de emoções, sentimentos, impressões, ficamos com a mensagem e uma série de sensações em nossas mentes. Falam como se as coisas, as situações, fossem ruins, como se nós fossemos seres horríveis, como se nós estivéssemos obrigando os outros a praticar violência, repressão, contra nós. Uma coisa que podemos observar é que mesmo para situações que nunca vivemos temos nossas impressões. 
Pensamos: "- Não vou fazer tal coisa, ou vou fazer uma outra, porque senão...". De tanto medo que nos colocaram, nós mesmos já nos cobramos. Com medo, nos travamos, queremos nos controlar para fazer coisas ou deixar de fazer coisas. Nos tratamos como fomos tratados. Não somos naturais. Auto controle não é compreensão, é violência contra nós mesmos. 
Em verdade, o medo é a preocupação com a maldade, o preconceito, a violência, a arrogância, dos outros, que não passam de projeções de nossos próprios demônios. Quando projetamos nossas idéias, por mais inconscientes que sejam, ficamos com medo, pois estamos expostos. Devemos compreender e enfrentar as situações, nossos demônios, assim podemos vencer os medos. Medo é a proteção dos egos, pois não querem morrer. 
Parece até engraçado, mas enquanto estamos com medo de alguém, este alguém também pode estar com medo de nós. Na verdade somos todos iguais, temos em maior ou menor intensidade os mesmos problemas. 
Como antídotos para o medo, temos a coragem, a ousadia, a força, a verdade, a simplicidade, a sinceridade, a humildade, mas acima de tudo a consciência e o amor. 




Texto de Fabio Ferreira Balota

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