quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sobre o Medo parte 4

Trecho do diário de Krishnamurti: 
"Existe o medo. O medo nunca é uma realidade: vem sempre antes ou depois do presente ativo. Quando há medo no presente ativo, será isso medo? Esta ali e não há como fugir dele, não há como escapar. Ali, no momento presente, há a atenção total ao momento de perigo, físico ou psicológico. Quando há atenção total, não há medo. Mas o próprio fato da desatenção gera o medo; o medo surge quando há uma evitação do fato, uma fuga; então a fuga, é ela própria, o medo." 
O medo pode ser descrito de muitas formas diferentes, pode ser referenciado por muitas palavras diferentes como, por exemplo, alarme, acovardamento, angústia, ansiedade, apavoramento, apreensão, assombro, aversão, covardia, desassossego, enlouquecimento, fobia, ódio, raiva, horror, inquietação, inquietude, pânico, pavor, pusilanimidade, receio, repulsa, sobressalto, susto, temor, terror, tremor, etc. 
Temos medo de tudo e de todos, temos medo o tempo todo, somos profundamente inseguros, talvez não seja esta uma percepção boa de ter, enquanto a não tivermos uma boa estrutura psíquica. Nós podemos ter até conhecimento destes medos, mas não temos consciência deles, não temos consciência de que temos medo e muito menos consciência dos medos que temos. Vivemos achando que temos alguns poucos medos definidos, os grandes medos, mas temos muitos pequenos medos e, estes são os que geram, de forma sutil, muitos condicionamentos, muita ansiedade, preocupação, desconfiança, insegurança, tensão. Nos preocupamos com os medos grandes, quando na verdade os que realmente nos geram problemas no dia a dia são os pequenos medos, aqueles que não fazemos consciência de que temos. Os medos grandes são como uma cortina de fumaça para os pequenos medos. 
Temos medo da zombaria, da ridicularização,da exposição,da humilhação, da desonra,do embaraço,da retaliação moral ou material, do castigo, da punição, da rejeição. Temos medo do que os outros vão achar, do que os outros vão dizer, do que os outros vão pensar, do que os outros vão fazer, todas estas coisas nos trazem sensação de medo. 
O medo é sempre referente a alguma coisa, assim temos medo de não sermos aceitos, medo de sermos rejeitados, medo de sermos magoados ou de magoarmos os outros, medo de crítica, medo de reclamação, medo de nossa família, da opinião pública, de perder nosso emprego, medo de não obter o que desejamos ou de perder o que possuímos, medo de solidão, medo do escuro, medo de perder o que nos da prazer, medo de perder nossas companhias, medo de perdermos a segurança e satisfação conferidas pela posse, medo de sermos ninguém, medo de perder o emprego, medo de não termos comida ou dinheiro suficiente, medo do que os outros pensam de nós, medo de não sermos um "sucesso", medo de perdermos a posição na sociedade, medo de sermos desprezados ou ridicularizados, medo da dor e da doença, medo de sermos dominados por outros, medo de não chegarmos a conhecer o amor ou de não sermos amados, medo de perdermos esposa ou filhos, medo da morte, medo de perder a fé, medo de nos sentirmos vazios, medo de viver. 
O medo pode variar em formas e intensidades, podem variar também os objetos do medo, mas o medo é sempre o mesmo, é sempre medo, sua estrutura, suas raízes, são sempre as mesmas. Olhar para os objetos, para as formas, para as intensidades, para os detalhes, do medo, é uma fuga. 
Precisamos analisar nossos medos, precisamos para de fugir, repudiar, precisamos parar de atribuir nossos medos a outras coisas, por não queremos ver ou ouvir alguma verdade, realidade. Acreditamos que temos medo do chefe, mas na realidade, temos medo de perder o emprego, medo de humilhação, de repressão, de reclamação, do constrangimento, da retaliação, do castigo, da punição, de perder status, de cair no conceito, temos medo de receber rótulos que julgamos negativos, temos medo de ouvir que não somos competentes, comprometidos, sérios, responsáveis. Acreditamos que temos medo da mulher, mas na realidade temos medo do abandono, da solidão, temos medo de ouvir que somos egoístas, maldosos, estúpidos, mal agradecidos, temos medo de ouvir reclamações, temos uma tremenda repulsa a reclamações. Assim, temos o agente do medo que é aquele que é capaz de criar as situações onde podemos vir a sentir medo, só esta possibilidade já nos dá medo. 
Precisamos olhar para nossos medos sem idéias, conceitos, preconceitos, dogmas. Se acreditarmos que não podemos nos livra do medo, então nada pode ser feito. Se acreditarmos que o homem é assim mesmo, que o medo faz parte de nós assim como ele é, então nada pode ser feito. Se acreditarmos que esse ou aquele motivo pelo qual sentimos medo é um motivo justo, que nesse ou naquele caso tínhamos que sentir medo mesmo, então nada pode ser feito. Se a essência do homem é boa ou ruim, não importa, precisamos apenas olhar para o medo. Estas coisas são só idéias que estão nos travando, são idéias que estão servindo de muleta para nada fazermos, para nos justificarmos. 
Precisamos conhecer o medo, sua estrutura, suas raízes, precisamos compreender tudo isso, não podemos apenas tentar inverter, compensar, sem dizer que precisamos de mais coragem, ousadia, força, isso é uma fuga. 
A palavra medo, a idéia do medo, o símbolo do medo, trazem sensações, conjuntos de valores, experiências, pesos, precisamos conhecer isso, precisamos compreender isso, não superficialmente, mas profundamente. 
O medo embota a menta e nos impede de agirmos de forma correta, de forma reta, nos impede de pensarmos de forma clara, de forma reta, nos impede de falarmos retamente, nos levando a mentira, a falsidade, com medo não podemos ser retos. 



Continua......



Texto de Fabio Ferreira Balota

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