sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

sobre o medo parte 5

Diz Krishnamurti em "Sobre o Medo"

"O medo faz a mente fenecer, distorce os pensamentos, leva a todo o tipo de teoria de extraordinária sagacidade e sutileza, a superstições absurdas, a dogmas e crenças."
Podemos passar tranquilamente por uma situação onde normalmente sentíamos medo, então nos sentimos bem nos sentimos fortes, livres.Mas pouco depois começamos a imaginar, a mente fica na expectativa do que vai acontecer na próxima vez em que nos depararmos com a situação, imaginando se realmente vencemos o medo, se vencemos o medo para sempre. Então o medo já esta lá novamente. 
Criamos na mente uma situação onde sentimos a sensação de segurança, de tranqüilidade, de conforto, de prazer. Ficamos com medo de perder estas condições imaginárias, ficamos com medo de sair desta situação. Ficamos com medo de alguém ou alguma coisa venha nos tirar desta situação. 
O medo nos causa repressão, depressão, tristeza, infelicidade, embotamento, dor e sofrimento. Esta dor é uma dor psicológica, trazida pelas nossas sensações de perda, exposição, erro, inferiorização, humilhação, vergonha, por medo de castigo, punição, sofrimento. 
Por medo, mentimos, fingimos, dissimulamos, falseamos, inventamos, criamos desculpas, explicações, justificativas, não somos fortes, não temos coragem e ousadia, para aceitarmos os nossos erros, nossos limites, nossas imperfeições, estamos sempre atrás da aceitação dos outros. 
O medo nasce da comparação entre nossas ações e nossos conceitos, padrões, valores, ou das comparações que fazemos entre nós e as outras pessoas, o que na realidade também se refere a nossos padrões, conceitos, valores, aos nossos julgamentos.
O medo nasce da competição por prazer, status, poder, aceitação, sucesso, fama, riqueza, pois queremos sempre ser melhores do que os outros, estar acima dos outros, ter mais do que os outros, então temos medo de ter menos do que os outros, ser menos do que os outros. 
Muitos dos que estudam a psique humana, acreditam que a vergonha, a culpa e o medo, são fundamentais para desenvolvimento da moralidade humana. Em verdade, se dependemos destes sentimentos, destas sensações, para não praticarmos determinados atos, é porque não temos consciência alguma, estamos dormindo profundamente. 
O medo,a culpa e a vergonha,são muito limitados para servirem como base para a constituição da moralidade humana, a verdadeira moralidade nasce de dentro de nós, nasce da consciência, não é uma moralidade subjetiva, uma moralidade que tenha dependências de grupos, de conceitos, de valores, não é uma moralidade do ego. A verdadeira ética e a verdadeira moral devem estar acima dos costumes de épocas e locais. 
O medo não serve para regular a sociedade, o medo só serviu para criar falsos, hipócritas, mentirosos. 
Diminuindo o medo, a culpa, a ansiedade, a vergonha, precisamos cuidar para que não passemos a agir com descaso, desrespeito, indiferença, desprezo, desatenção, desdém, desleixo, desmazelo, imprudência. 
Não conseguimos ficar com a mente quieta no vazio das situações, não conseguimos encarar a realidade das situações, ficamos com medo, entramos em desespero,isso pode ser sutil,muito sutil.Assim a mente começa a fantasiar criando falsas impressões,ilusões,sensações, tentando fugir do aparente vazio do momento presente, na busca de prazeres que venham a preencher este vazio, a disfarçar este vazio. Se parássemos para observar o vazio, o real, poderíamos ver a magia do presente, a magia da realidade. Mas não paramos, fantasiamos, projetamos. Por medo do vazio começamos criamos falsas impressões, ilusões, sensações na busca de prazer, mas o desejo de prazer traz consigo dor, sofrimento, medo. O medo gera mais medo, a fuga do medo gera um medo mais intenso. Nós inventamos nossos medos, nós os criamos, nós os definimos. A fuga do presente, o medo, as sensações, a identificação, a fantasia, as ilusões, levam ao embotamento da mente. 
Fantasiamos que alguém esta nos observando, pensando coisas sobre nós, nos admirando, nos invejando, sentimos sensações de prazer, de sermos melhores, diferentes, sentimos orgulho, sentimos a sensação de fama, sucesso, status, reconhecimento, aceitação, auto afirmação. Criamos divisões, separatividade, nos definimos, nos identificamos. Tudo isso por medo do comum, do ordinário, do vazio, do deserto do real. Mas este mesmo movimento de fantasiar que nos traz prazeres, também cria as impressões opostas, as sensações opostas, criar dor e sofrimento, sensação de que os outros estão nos achando ridículos, inferiores, medo de rejeição, crítica. 
Assim como um carro é somente um carro, uma roupa é somente uma roupa, e é a mente que transforma isso em algo de valor, com pesos, imagens, fantasias, que associamos, nos levando a sentir sensações de prazer, um erro é só um erro, mas quando a mente começa a fantasiar, exagerar, projetar, surge o medo, a vergonha, a culpa, a ansiedade. 
Por medo nos apegamos as coisas, na tentativa de fugir de alguma outra coisa, mas este apego gera outro medo, o medo de perder o objeto do apego. Todo vício é uma fuga, julgamos os drogados, os alcoólatras, modernamente julgamos os fumantes, mas não percebemos nossos vícios, nossas formas de fuga. 
A televisão,o cinema,o jogo,o entretenimento,a diversão,a dança,a gastronomia,o trabalho,os livros, os ditos "passatempos" , a busca, o desejo, por prazeres,sempre fugazes, são formas de fuga, alienação, não tão prejudiciais à saúde do corpo, mas talvez até piores para a psique, para a alma,pois aparentemente estamos apenas aproveitando a vida, dizemos que precisamos de um pouco de diversão, de distração, dizemos que fazem bem, que merecemos. 
Nós utilizamos estas coisas não para fugir de uma realidade externa, mas para fugir de uma realidade interna, do chamado de nossa alma que clama por liberdade. Nossa alma clama por liberdade e fugimos para a televisão, para a diversão. 
Utilizamos até mesmo a religião, a meditação, para fugir, nos escondemos atrás de belas roupagens por pura hipocrisia.Estamos sempre na busca de desafios, na busca do novo, estamos sempre criando de problemas, tudo para não olharmos para nós mesmos, para fugirmos da realidade, do tédio, do nosso vazio existencial. 
Vivemos com nossos medos através dos tempos, nossos pais, avós, bisavós, enfim nossos antepassados, sempre conviveram com isso. Nenhum de nós nunca parou para olhar o medo, nenhum de nós nunca parou para olhar para dentro de si mesmo, para nossos sofrimentos, nossas misérias, achamos tempo para trabalhar, para trabalhar mais, para nos divertirmos, para prazeres, mas não achamos tempo para as coisas que sempre estiveram conosco e se não fizemos nada sempre estarão. 
Então, podemos dizer que o medo é isso, é aquilo, é aquele outro, mas precisamos estar abertos para que sempre estejamos descobrindo, conhecendo, cada vez mais sobre o medo. Precisamos perceber que podemos falar muito sobre o medo, mas somos ignorantes quanto ao medo. O fato é que o medo virá e não sabemos como ou onde, assim precisamos estar abertos para ele, não resistindo, mas enfrentado. 
Parece não ser uma questão de compreender o medo e não sentir medo nunca mais, parece ser uma questão de ir conhecendo o medo vida a fora, ir aceitando e enfrentado. 
Paz Profunda a Todos

Texto de Fabio Ferreira Balota

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